"Race" - um filme sobre a vitória do esporte sobre o racismo
A história de Jesse Owens nos Jogos de Berlim é lindamente contada
Filmes baseados em histórias reais nem sempre se saem tão bem e encontram vários críticos que não os apreciam. Quando se trata de eventos esportivos transformados em produção cinematográfica, pode ser ainda mais difícil. Para o diretor Stephen Hopkins e os roteiristas Joe Shrapnel e Anna Waterhouse, porém, a tarefa não parece tão difícil. O filme “Race” em inglês é muito bom e consegue contar a história única do atleta Jesse Owens, que conquistou o então recorde de quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936.
A conquista de Owens é ainda mais significativa dadas as disciplinas e o fato de ele ser afro-americano. Ele conseguiu o ouro nos 100, 200 metros, no revezamento 4 por 100 com a seleção dos Estados Unidos, bem como em outra de suas provas principais - o salto em distância. E tudo isso numa época em que era extremamente difícil para os atletas negros participarem de competições esportivas tão significativas, e durante o reinado de Adolf Hitler na Alemanha.
Talvez dirigir não seja tão único. Hopkins simplesmente percorre cada etapa do evento em questão e mostra a dor do atleta que deve ser suportada para alcançar o sucesso. A verdade é que “Raça” tem um objeto único em torno do qual se desenvolve a ação. Jesse Owens nasceu no Alabama e frequentou a Ohio State University para representar os Estados Unidos nos Jogos de Berlim. Seus sucessos deixaram Hitler sem palavras enquanto ele destruía seus ideais de puro domínio da raça ariana.
No papel principal está o charmoso Stephen James, que faz um trabalho maravilhoso como um atleta de 19 anos, que conseguiu se preparar lindamente e dois anos depois realizar o sonho mais querido de qualquer atleta. O bom é que não existem clichês biográficos, embora haja muitos momentos cafonas no roteiro. Foi escrito por Shrapnel e Waterhouse em colaboração com a família de Owens, que morreu de câncer de pulmão em 1980.
O filme chega às telonas em 2016 e ajuda ver alguns efeitos de luz e edição nos quais o cinema não confiava anos atrás. O senso de verossimilhança e 1936 está um tanto perdido devido a esse fato, mas é bastante adequado.
“Race” não esconde o fato de que Owens traiu sua futura esposa e mãe de seus três filhos, Ruth Solomon, interpretada por Shanice Banton. O filme atinge seu ponto mais forte durante as cenas de treinamento na Ohio State com o técnico Larry Snyder, interpretado pelo extremamente elegante Jason Sudeikis. Snyder prepara Owens para o cenário mundial e lida com a pressão do Comitê Olímpico dos EUA, que quer boicotar os Jogos de Berlim por causa do racismo de Hitler não só contra negros e judeus, mas também contra outras minorias.
A produção centra-se também no debate entre o presidente da comissão, Jeremiah Mahoney, que é muito inflexível em que os americanos não devem aparecer em Berlim, e Avery Brundage, que é de opinião que isso não deveria acontecer por qualquer motivo. Owens entra em um dilema consigo mesmo sobre qual decisão é a certa, colocando-se no papel de atleta e de homem negro.
Porém, a chegada do atleta de sucesso à capital alemã acende o fogo em “Corrida” e torna o filme verdadeiramente de qualidade. As cenas foram filmadas no Estádio Olímpico de Berlim depois que os produtores obtiveram permissão especial para fazê-lo. Eles se tornam mais do que épicos quando o carinho dos fãs por Owens é mostrado. Está em total contraste com os sentimentos e o fanatismo do regime de Hitler. Até as câmeras especiais contratadas pelo líder fanático para captar a superioridade do Terceiro Reich mostram o incrível sucesso de Owens, que roubou os louros destes Jogos Olímpicos.
As corridas estão bem representadas e só contribuem para a imagem da história. Espera-se um encontro não muito bom entre Hitler e o atleta, mas no final o choque maior vem do facto de o norte-americano não ter sido convidado à Casa Branca para ver o presidente dos EUA.
“Race” é um grande filme que foca não tanto nos sucessos de um atleta brilhante como Jesse Owens, mas sim no drama pessoal de um atleta negro durante as Olimpíadas de 1936, realizadas em um país governado por racistas. Definitivamente vale a pena prestar atenção a esta produção.